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sexta-feira, 1 de maio de 2015

A saga de uma lavadeira

A Saga de uma Lavadeira
(Juarez Freitas)


Maria de Nondas, heroína anônima,
lavava as roupas na bacia das almas.
criava os filhos tirando leite de pedra,
comendo o pão que o diabo amassou.
Alimentava a família e a esperança
com palavras vivas recheadas de fé.

Mulher guerreira, não fugia a labuta,
Viúva de marido vivo vivia um dilema,
a dor do até logo que virou adeus,
a Deus lamentava a cruz pesada
que mesmo sem pedir, lhe foi dada,
como “prêmio” pelos atos de bravura.

Maria de Nondas, prostituída pela sina,
mãos e alma calejadas, pés descalços,  
vendia labor, crença e perseverança.
Escrevia nas linhas tortas do tempo
a história de uma certeza incerta,
ferida aberta que não quer fechar.

Fonte de vida, a bica das lavadeiras,
confidente fiel, única companheira,
não era como Maria, perdia a força,
derramava suas últimas lágrimas,
minando os sonhos e a ousadia
de um sinônimo de mulher: Maria!

O rio acariciava-lhe os pés e o olhar,
regava o orgulho de uma “Severina”
que de grão em grão sabia colher
o pão de cada dia e a razão de viver.
A seca devorou o rio, poeira e calor
emudeceram o eco e o grito da “flor”.

A fome, impiedosa, batia-lhe a porta,
a saudade, infinita batia-lhe no peito,
encurralada na vida como bicho, 
encarcerada pelo destino como réu,
sem saída, Maria renunciou a vida,
virou estrela e foi morar no céu.

Poesia vencedora da 16ª Noite Literária do 29° FESTIVALE realizado em Padre Paraíso.