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domingo, 26 de outubro de 2014

Eleições 2014

Hoje é dia de eleição. Muitos ufanistas vão dizer que é o momento ápice de se exercer a cidadania, mas eu não vejo assim. Pode-se produzir grandes coisas na vida de alguma pessoa ou da sociedade sem ser época de eleição. Mas não deixa de ser uma época importante, vamos decidir quem fará nossas escolhas públicas e vai gerenciar mais de um terço da nossa riqueza arrecadada com os altos impostos.
Estarei novamente de fora desse pleito, mas peço que pensem bem em quem votar. Olhem as propostas, pense não só no seu futuro, mas também de quem ainda está crescendo ou está por vir. Busquem todas as informações possíveis e não deixem que o fanatismo, a influência de terceiros ou a troca de favores seja a única coisa a se levar em conta.
Votem bem, várias coisas estão envolvidas e, principalmente, ajam como vocês queiram que seus candidatos agissem. Leia o plano do governo dos dois candidatos e cobre aquilo que você esperava que o candidato vencedor fizesse. Fazendo isso estarão numa guinada certa rumo a um país melhor e mais digno para todos.

Boa votação a todos e, por favor, sem comentários políticos. O tempo de influenciar se foi. 

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

10 anos pelo mundo

Na postagem anterior, comentei sobre a saída da minha cidade. Hoje discutirei um pouco sobre a continuação daquela história que se deu num dia como este, a chegada a Belo Horizonte. Depois de quase 12 horas pelas estradas de Minas Gerais o ônibus chega a BH e, então, dou meus primeiros passos sozinho pela aquela cidade.
O ônibus, naquela época, parava num ponto da Avenida Afonso Pena. Era uma amostra e tanto do quanto minha vida iria mudar. De uma cidade pacata e com pouca densidade populacional, me deparei com a avenida mais movimentada de Belo Horizonte. Era muita gente passado de um lado para o outro e eu feito bobo olhando aquele mar de gente seguindo seus destinos.
Bom, cheguei no ponto final da minha viagem, mas meu trajeto não terminava ali. Tinha que encontrar a casa da minha tia. Ia receber abrigo por lá e terminar o ensino médio para, quem sabe, ser aprovado num curso superior. Consegui com algumas informações chegar ao local que deveria pegar o ônibus coletivo para chegar lá, apesar de ter uma pequena confusão em compreender que o ponto de chegada era o mesmo de partida he! he!.
Depois de alguns minutos para pegar a condução, fui pedir assistência ao cobrador para me indicar qual seria o ponto de parada. Era muito embaraçoso fazer isso naquela época. Achava que pedir informação seria incomodar as pessoas. Tinha receio de comunicar com pessoas desconhecidas e durou bastante tempo para aprender a perder o embaraço. Mas fui gaguejando pedi informações e a viagem seguiu.
Parei no lugar certo, mas minha memória não estava boa o suficiente para saber o que fazer a partir dali (estive lá há três anos atrás e estava próximo a residência, mas não tinha ideia do que fazer para chegar). Liguei para minha tia e ela falou para pegar qualquer van naquele ponto e pedir para parar no hospital regional. Era o ponto de referência que eu precisava.
A primeira condução que passou eu parei ela e fiquei olhando se encontrava o hospital regional. Mas ela andava e andava e nada de eu ver o hospital. O motorista já ia percebendo que o trajeto ia acabando e eu estava lá meio inquieto sem saber o que fazer. Não me lembro direito se ele me perguntou onde eu queria descer ou se eu vi que ele já havia percebido que eu estava meio perdido e fui até ele perguntar se a van passava pelo hospital regional. Ele disse que não passava, fiquei sem saber o que fazer. Expliquei para ele a minha situação e, para minha surpresa, ao informar que estava chegando de Araçuaí, o motorista disse que também era de lá.
Depois de tamanha coincidência, fui contando minha história e ele também foi falando um pouco sobre a sua e foi me dando referências. Ambos tínhamos vínculos com o mesmo bairro da cidade e ele quebrou meu galho ao sair um pouco de sua trajetória para me deixar num caminho que era fácil chegar na casa da minha tia. Pediu como favor para mandar lembranças aos parentes dele que eu conhecia. Falei que ia fazer isso, mas não sei ao certo se fiz.
Parei no local indicado pelo meu conterrâneo e fui descendo o morro em direção à casa de minha tia. Começava então, num dia como este, há dez anos, toda a minha trajetória de ensino médio, faculdade, mestrado, doutorado, novos amigos, novas cidades, novos estados e, acima de tudo, uma vida cheia de oportunidades.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

10 anos do dia em que eu saí de casa

Hoje, exatamente hoje se completa dez longos anos do dia em que deixei minha casa e minha cidade em busca de novos horizontes na vida. Aquele fatídico, mas esperado dia mudou minha vida repentinamente e me trouxe responsabilidades que até então nunca tive, levando-me abruptamente da adolescência para a vida adulta em um dia.
Foi um dia de indecisão, pois me via prestes a me formar no ensino médio na minha cidade, mas sem muita perspectiva sobre o que fazer na vida. Meu tio Rogério que também saiu de Araçuaí para estudar vivia me dizendo para sair da cidade, era hora de crescer ou pelo menos buscar o crescimento e, para isto, era imprescindível que eu saísse da "barra da sai de minha" mãe e encarasse o mundo sozinho.
Esta decisão foi sendo adiada, o primeiro pedido foi logo ao terminar o ensino fundamental, mas não me considerei preparado o suficiente para fazer o ensino médio fora. Ainda era muito imaturo, julguei ser melhor continuar em casa, crescer e estreitar melhor meu relacionamento com minha família e a cidade antes da decisão de ir embora.
O tempo passou e, mesmo estudando numa escola com qualidade inferior, resolvi que ia melhorar meu rendimento e talvez me aventurasse num sonho de fazer um curso superior que, até então, era visto como um sonho impossível pra mim. O desafio era acumular o maior conhecimento possível no ensino médio e continuar aproveitando minha casa, família e viver meus últimos passos como cidadão araçuaiense antes de partir para o improvável. A semente estava plantada.
Ao final do ensino médio, vem a noticia que minha tia Lindaura que morava em Betim estava disposta a me acolher em sua casa para que eu terminasse o ensino médio por lá e pudesse estar mais próximo de alunos que tinham o mesmo pensamento que o meu e assim poder de fato medir meu nível de ensino. As portas se abriam, mas a incerteza e a aquela vontade de fazer as últimas despedidas pela cidade adiaram um pouco a minha ida.
Passaram-se mais dias e aos poucos sentia que a cidade podia estar ficando pequena para o que eu esperava fazer. A vida era boa, sem muito dinheiro, mas com muitos amigos e na fase que estava o dinheiro não importava muito, pois as diversões de cidade pequena eram feitas na escola, rua, rios, etc. Entretanto, aos poucos via que a maioridade ia chegando e não avistava meu futuro na cidade. O convite para mudança começara a ecoar na minha cabeça.
Comecei a comentar com meus colegas, com minha mãe e, aos poucos, ia me preparando para o que estaria por vir. Havia saído da minha cidade apenas duas vezes. Quando criança passava férias do meio do ano na casa de minha tia em Capelinha e na adolescência fui para a formatura do meu tio em Viçosa. Meu conhecimento era praticamente nulo fora da minha cidade, nem as cidades vizinhas eu conhecera até então. Estava muito cru, mas era preciso arriscar.
Consegui uma passagem para Belo Horizonte pela prefeitura da minha cidade, o alto custo da passagem de ônibus pela Gontijo estava eliminado. Liguei para minha tia, conversamos, ela me explicou como ia ser minha morada na casa dela até que eu terminar o ensino médio e depois tentar a vida pela capital. Conversei com minha mãe, ela concordou, não havia muito que fazer. Era hora de apressar as despedidas.
Era então num dia como esse, aproximadamente no mesmo horário que, há dez anos, toda minha trajetória começara a ser decidida. Bolsas arrumadas, não havia muitos bens para levar, mas havia muita esperança. Horas antes de embarcar não encontrava minha passagem, a responsabilidade ainda não havia chegado. Arrumamos um jeito, conversamos com a responsável pelas viagens que confirmou meu nome na lista. Apesar da minha imaturidade, fui salvo. Dias depois descobri a passagem no fundo de um de muitos dos meus bolsos...
Aguardava a hora da partida, havia um momento de hesitação e angustia, pois partiria rumo ao desconhecido. Despedi de minha mãe e de minha irmã que foram comigo até os últimos passos e entrei no ônibus. Não tinha volta...
Não tirava a cabeça da janela, queria ficar olhando tudo aquilo ali que fora toda a minha vida. Conversava pela janela com minha mãe e minha irmã até o motorista dá a partida. Não queria ficar pensando demais no que estava a me esperar para não ficar mais aflito do que estava. O motorista liga o ônibus, foi dada a partida. Olhei pela janela e dei tchau para minha mãe e irmã que começara a chorar, tive que parar de olhar para não fraquejar... O ônibus foi contornando a cidade rumo à rodovia, a cidade ia ficando para trás. Alcançado a rodovia, o último olhar para a cidade que sempre vivi. Era meu adeus como morador, o destino me aguardava.

domingo, 12 de outubro de 2014

Triste Cantiga de Roda

Me lembro de quando eu era criança
e saía a caçar borboletas
mesmo onde não haviam borboletas.
Ficava a contemplar o sol
que se repetia todos os dias,
clareando a seca, a fome, a preocupação.
Tinha vez que o sol esquentava tanto,
que diziam que o mundo ia pegar fogo.
Então, era preciso fazer penitência:
andar descalço até o cruzeiro,
a terra rachando de quente,
e pedir a todos os santos do céu
“uma gota dágua pelo amor de Deus”.
Mas eu era apenas uma criança
e a bola de gude era azul.
Esperava muito.
Por exemplo,
O dia em que o rio Jequitinhonha virasse mar.
Conheci o mar na escola
E, na época de cheia,
eu pensava que era o mar que já vinha.
Esperava até por mim mesmo.
Queria ser “gente grande”, ser “rei”.
Cresci, sem este poder.
As notícias de jornais foram mais fortes
e foi através dos jornais
que descobri que morava no “Vale”,
a região mais pobre do país
e que não éramos tão civilizados.
Ganhamos então a energia elétrica, o DDD, o asfalto.
E o “Vale” está em progresso!
Mas os jornais esquecem de noticiar
que todos os dias à noite,
as crianças não brincam mais de roda, Maria Buscambeira
e outras coisas mais.
As praças estão silentes
escondendo uma lua
que a TV se encarrega de ofuscar.
Basta!
Não precisamos mais visitar o vizinho,
contar casos de lobisomen
e brincar nos escales.
No Vale do Jequitinhonha,
os peixes não nadam mais
como antigamente

Autor: José Machado de Mattos

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Último Parto

Minha mãe trouxe de Araçuaí, 
no boi da canoa, 
uma linda criança. 
Descera nas águas claras 
daquele rio, 
onde o sol lumiava 
as mãos e os remos dos canoeiros. 
A água azul 
tingia a pureza do meu pai 
e nós, no lajedo, doidos para vê-la, 
cada um primeiro que o outro. 
Eu vi primeiro, gritávamos. 
E a tarde mostrou seu nome, 
nome de vida, nome de santa: 
Maria Efigênia. 
Depois, Fija, Efi e tia Fija. 
Ficou menina caçula sorrindo branco 
a luz clara dos seus olhos verdes. 
E será sempre caçula 
bebendo água na concha da mão 
e brincando de guisado no fundo do quintal. 
Será sempre Fija, 
“sempre-viva”, 
sempre o sempre 
neste eterno em que a vida promete, 
um dia, as asas da sombra. 
Será,talvez, a última 
a contar a nascente da mina dágua 
na beira do barranco. 
Será a última (quem sabe) 
a contar o sabor de um colo. 
Será minha mãe, 
me ensinando como a outra mãe, 
ensinando pra seu outro filho, 
o labutar da vida. 
Será mesmo a mama 
dos manos unidos 
naquele cordão enterrado, 
cortado a tesoura, 
a única sem parto de vovó Isaura 
porque a última. 
Será quando o tempo nos trouxer 
“saudades”

Autor: José Machado de Mattos