Olá! Seja bem-vindo. Hoje é
.

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Trocador de Ilusões

Quem morou no interior
Ou quem já passou por lá
Deve já ter conhecido
Um mascate popular
Um caixeiro viajante
Indo a todo lugar

Conheci esse mascate
Que não vendeu nem comprou
Preferindo o troca-troca
Com muita gente “rolou”
Eu escrevo sua história
Do jeito que ele narrou

Vou mudar minha rima
Vou pedir sua atenção
Deixo de lado a sextilha
Vou narrar oita-quadrão
Não faça como o mascate
Não troque a rimação

Troquei cana por bambu
Troquei pombo por anu
Troquei cobra em teiu
Cinza troquei pelo carvão
A calma pela aflição
Troquei padre numa freira
O mercado pela feira
Troquei quadra por quadrão

Troquei raio por corisco
Troquei traço pelo risco
Dei um peixe num marisco
Troquei a sogra pelo cão
Gaiola num alçapão
Troquei Caim por Abel
Um soldado em coronel
Troquei quadra por quadrão

Troquei mudo em caolho
Dei surdo por zarolho
Troquei nariz pelo olho
O olho dei na visão
Troquei doente por são
Dei junho em abril
O ão eu dei num til
Troquei quadra por quadrão

Troquei Thatcher em Malvina
O destino eu dei na sina
Troquei o verso pela rima
Troquei bucha por canhão
Troquei sujo por sabão
Dei nelore em zebu
Uma rã dei num cururu
Troquei quadra por quadrão

Troquei burro pela besta
Um balaio dei numa cesta
Troquei quinta pela sexta-feira
Dei batizado em pagão
Troquei amor por paixão
Troquei cama pela cova
Dei dez velhas numa nova
Troquei quadra por quadrão

Troquei boteco em butique
Dei Berlim por Munique
Desmaio troquei por chilique
Troquei praga em maldição
Delfim eu dei na inflação
Troquei piau em crumatá
Francesa por alemã
Troquei quadra por quadrão

Troquei cachaça por mé
Dei Garrincha em Pelé
Troquei Tomás por Tomé
Troquei o sim pelo não
Dei Cosme por Damião
Dei o Xá por Khomeini
O capeta por Mussolini
Troquei quadra por quadrão.

O vale não troquei por nada
Mas dei numa terra sonhada
Meu coração prá uma fada
E em troca tive a lição
Ela me disse: preste atenção
Nosso amor e Itaobim
Só troque pelo céu mesmo assim
Cantando Quadra e Quadrão

Autor: Jansen Chaves

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Um deboche democrático e social

Esperei demais, já passou da hora,
adeus Jequitinhonha,
estou indo embora.
Nasci tatu e vou morrer cavando,
mas se aqui não me querem,
fico não senhor,
vou pra capital, cidade grande,
cavar minha vida num tal de metrô.
Adeus meus sete palmos deste chão,
Está tudo como o Diabo tinha programado.
Adeus Lei do Cão, estatuto enterrado,
adeus prefeito, adeus delegado,
vou dar meu voto numa chique zona,
ser saco de pancada em nobre povoado.
Arrenegado dessa divisão
(muito pão em pouca mão
e trabalhador sem fatia),
o patrão só dando ordens,
me julgando à revelia,
também virei ditador
e ordeno ao modo do impostor:
arruma a trouxa, Maria!
Se no outro 15 de novembro
carecerem de nossos votos,
eles que mandem dinheiro da passagem,
do sapato, roupa nova e coisa e tal.
A gente faz que perdeu o trem da viagem,
vota na zona de lá (perdão pela sacanagem)
e poupa o dinheiro para uma feira eleitoral

Autor: Gonzaga Medeiros