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sábado, 12 de agosto de 2017

Ipê-Violeta

Há pouco tempo fiz a descoberta de uma espécie de ipê nativa que cresce quase que exclusivamente da região do Vale do Jequitinhonha, o ipê-violeta (tabebuia gemmiflora). Isso tudo se deveu a uma curiosidade sobre os ipês. Passei a conhecer bastante essa árvore com a minha morada em Brasília e fiquei fascinado com a sua floração nos invernos da capital.
Resolvi plantar uma muda de ipê na nova casa de minha mãe que praticamente não tinha plantas. Oportunidade e tanto para restabelecer o meu vínculo com a jardinagem que gostava tanto de fazer quando era criança. Nesta época, queria plantar de tudo no quintal de casa, mas tinha pouco conhecimento para conseguir. As coisas mudaram e agora posso plantar muita coisa, o problema é o espaço. Nada é perfeito.
Achei a árvore de ipê ocasionalmente quando estava indo, com um primo meu, em busca de uma muda de uma fruta que o povo chama de murta (parecida com a jabuticaba) e que não sei ao certo qual é o nome científico. Fiquei muito surpreso quando o meu primo (que não sabia da existência desse ipê) apontou uma árvore que ele achava que era um ipê. Pude confirmar que era o ipê que eu tanto procurava e o achei de forma tão despretensiosa.
A floração estava exuberante com várias flores espalhadas pelo chão como um lindo tapete. A árvore quase não tinha folhas, típico dessa planta em sua floração.
Falei em voltar e trazer a câmera para registrar aquele espetáculo presenciado por nós, mas na volta já foi o tempo de quase todas as flores caírem (talvez ajudada pela chuva do dia anterior) e dessa vez apenas o chão estava esplêndido. Mesmo com esse pequeno contratempo, resolvi tirar fotos das poucas flores que restaram na árvore. Tenho certeza que pouca gente conhece essa belíssima árvore muito rústica e com um tremendo potencial paisagístico.
Fiquei de frente de duas árvores que considero marcantes na minha região. A murta, uma fruta que nasce espontaneamente no mato e que a criançada saem para a mata a procura dessa fruta deliciosa, principalmente no mês de janeiro. E o ipê-violeta (ou ipê-púrpura) que dá flores exuberantes quase que exclusivamente nas matas virgens de nossa região. Duas plantas símbolos com bastante resistência e utilidade como alimento ou paisagismo. Valeu a pena revê-las. Quem sabe ainda consiga algumas sementes, antes que desapareçam...  





quinta-feira, 2 de março de 2017

Melancia-da-praia

Estou de volta depois de um longo tempo e quero falar de mais uma de minhas lembranças, a melancia-da-praia (Solanum capsicoides). Esse pequeno fruto dá normalmente num pequeno arbusto espinhoso e pode ser retirado e consumido da planta tanto verde quanto maduro. Pelo menos era assim que eu comia e nunca passei mal comendo com semente e tudo. Vi em algumas pesquisas que não recomendam comer com as sementes, mas aprendi a comer ela toda sem problema.

Quando tinha entre 5 e 7 anos e chegava o período de férias escolares, eu percorria grandes distâncias a pé para chegar na comunidade de Santana que fica na zona rural de Araçuaí. Lá moravam minha mãe e meus irmãos com seu antigo companheiro. Ia com eles para passar meu período de férias com minha mãe que trabalhava e morava naquela comunidade. 

Além do encontro entre os rios Jequitinhonha e Araçuaí, as vendinhas na comunidade ribeirinha de Itira e a travessia de canoa ou de balsa; tinha também a lembrança do longo caminho que fazíamos caminhando após atravessar o rio para chegar em Santana. Como eram dois adultos e três crianças, eu acaba sobrando para fazer o trajeto sem ser carregado. No que eu gostava muito, dava uma certa sensação de independência mesmo tão novinho. 

No trajeto íamos bem devagar para não nos degastarmos demais. Eu era o que mais aproveitava por estar mais livre da vigília dos adultos e levava comigo um pequeno estilingue que só servia para espantar os passarinhos. Tinha a mangueira muito fina por causa de meu tamanho e força. Não me lembro de matar nenhum passarinho pelo caminho he! he!   

Espantar passarinho era um dos meus passatempos enquanto fazíamos a caminhada, era só ver um que saía do caminho e ia atrás. Nisso todo mundo parava e me esperava até que eu voltasse. Como tinha muitos pássaros pelo caminho, essa era uma forma de me manter interessado pelo caminho e sem reclamar muito de alguma monotonia enquanto não chegávamos. 

Além desse detalhe tinha outras coisas que guardo com muito saudade desses tempos. As frutas que colhíamos na estrada. Uma chamávamos e murta e tive o prazer de colher e comer outra vez em 2010 na última vez que fiz esse mesmo trajeto, desta vez com meu irmão para relembrar o caminho. A outra, que até então nunca mais tinha visto, era a melancia-da-praia (pode ter outros nomes noutros lugares). 

Colhíamos bastante o fruto desse pequeno arbusto espinhoso no caminho para enganar um pouco a fome e a sede pela longo caminho a ser trilhado. É uma frutinha com uma boa dose de água e parece ser muito boa para aliviar a sede. Como eu ia um pouco à frente para procurar passarinhos, era o primeiro a avistar esta frutinha e então parávamos um pouco e consumíamos o que tinha lá que dava para comer. Era uma forma também de descansar, e como ela era abundante naquele percurso, ficávamos um bom tempo parados no meio do caminho. Aliviava bastante. 

Como já tinha voltado a ver e consumir a murta em 2010, faltava a melancia-da-praia que não tinha no caminho quando refizemos o caminho. Provavelmente não era a época ou de alguma forma ela não apareceu muito naquela época. Mas não dá para saber por uma pequena passagem...

Entretanto, essa saudade e vontade de rever aquela frutinha que me trouxe bastante alívio durante uma longa caminhada e era bastante farta nas trilhas para as casas na comunidade de Santana foi inesperadamente reencontrada numa pequena visita que fiz a uma pequena cidade chamada Jenipapo de Minas. 

Tudo que eu esperava encontrar em Jenipapo de Minas eram jenipapo e vi logo na chegada que não estava enganado. Mas ao fazer um pequeno caminho até o rio Setúbal que corta a cidade, vi alguns pezinhos de melancia-da-praia que ainda sobravam da última frutificação. Não perdi a oportunidade e procurei o que podia e colhi alguns frutos e trouxe algumas sementes para quem sabe plantar no quintal da casa de minha mãe. Deu muito alegria e uma imensa nostalgia poder ter esse pequeno reencontro com essa frutinha não tanto saborosa, mas que deve aliviar um pouco da necessidade de muita gente que vive no campo ou faz trilhas pelo mato.

É isso, quis falar um pouco sobre esse pequeno fruto que fez parte da minha infância e deve ter feito parte de muitas outras por aí. Meu carnaval foi muito proveitoso com descanso, novos lugares que conheci e velhas lembranças que eu pude reviver. Carnaval não é só folia he! he!










  



sexta-feira, 1 de maio de 2015

A saga de uma lavadeira

A Saga de uma Lavadeira
(Juarez Freitas)


Maria de Nondas, heroína anônima,
lavava as roupas na bacia das almas.
criava os filhos tirando leite de pedra,
comendo o pão que o diabo amassou.
Alimentava a família e a esperança
com palavras vivas recheadas de fé.

Mulher guerreira, não fugia a labuta,
Viúva de marido vivo vivia um dilema,
a dor do até logo que virou adeus,
a Deus lamentava a cruz pesada
que mesmo sem pedir, lhe foi dada,
como “prêmio” pelos atos de bravura.

Maria de Nondas, prostituída pela sina,
mãos e alma calejadas, pés descalços,  
vendia labor, crença e perseverança.
Escrevia nas linhas tortas do tempo
a história de uma certeza incerta,
ferida aberta que não quer fechar.

Fonte de vida, a bica das lavadeiras,
confidente fiel, única companheira,
não era como Maria, perdia a força,
derramava suas últimas lágrimas,
minando os sonhos e a ousadia
de um sinônimo de mulher: Maria!

O rio acariciava-lhe os pés e o olhar,
regava o orgulho de uma “Severina”
que de grão em grão sabia colher
o pão de cada dia e a razão de viver.
A seca devorou o rio, poeira e calor
emudeceram o eco e o grito da “flor”.

A fome, impiedosa, batia-lhe a porta,
a saudade, infinita batia-lhe no peito,
encurralada na vida como bicho, 
encarcerada pelo destino como réu,
sem saída, Maria renunciou a vida,
virou estrela e foi morar no céu.

Poesia vencedora da 16ª Noite Literária do 29° FESTIVALE realizado em Padre Paraíso.

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Cantiga de Reis - A Deus Menino

Meia noite já dada,
prazer santo respiremos,
em honra ao filho da virgem
alegres hinos cantemos.

Nasceu nosso redentor
na cidade de Belém
numa simples gruta ou lapa
de penhasco ao desdém.

Sofrendo ao rigor do frio
em vagidos naturais
posto em pobre manjedoura
bafejado de animais.

Ó Deus de imensa grandeza,
de poder e majestade,
reclinado num presépio
dando exemplo de humildade.

Cetro e coroa depondo,
os reis abrem seu tesouro,
e prostrados lhe oferecem
dons, mirra incenso e ouro.

Encantados desd’aurora,
já depois do meio dia,
a trazer-lhe seus presentes,
cada qual mais à porfia.

Cintilando a nova luz,
que se formou no oriente,
aos três magos excedia
com a fé a mais ardente.

A estrela que os guiava
em pleno fulgor divino,
se põe qual risonho sol
sobre onde estava o menino.

Abatei-vos, orgulhosos,
que sois terra, cinza e nada.
elevai-vos pelo bem,
respeitai a lei sagrada.

Exalta-se a natureza,
árvores dão fruto e flor,
e os astros em seu natal
brilham com novo fulgor.

Vinde, correi, ó mortais!
vinde os corações lhe dar!
vinde rendidos de amor!
vinde a Jesus adorar!

Autor: Miguel Gato (Fronteira dos Vales-MG)


terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Trocador de Ilusões

Quem morou no interior
Ou quem já passou por lá
Deve já ter conhecido
Um mascate popular
Um caixeiro viajante
Indo a todo lugar

Conheci esse mascate
Que não vendeu nem comprou
Preferindo o troca-troca
Com muita gente “rolou”
Eu escrevo sua história
Do jeito que ele narrou

Vou mudar minha rima
Vou pedir sua atenção
Deixo de lado a sextilha
Vou narrar oita-quadrão
Não faça como o mascate
Não troque a rimação

Troquei cana por bambu
Troquei pombo por anu
Troquei cobra em teiu
Cinza troquei pelo carvão
A calma pela aflição
Troquei padre numa freira
O mercado pela feira
Troquei quadra por quadrão

Troquei raio por corisco
Troquei traço pelo risco
Dei um peixe num marisco
Troquei a sogra pelo cão
Gaiola num alçapão
Troquei Caim por Abel
Um soldado em coronel
Troquei quadra por quadrão

Troquei mudo em caolho
Dei surdo por zarolho
Troquei nariz pelo olho
O olho dei na visão
Troquei doente por são
Dei junho em abril
O ão eu dei num til
Troquei quadra por quadrão

Troquei Thatcher em Malvina
O destino eu dei na sina
Troquei o verso pela rima
Troquei bucha por canhão
Troquei sujo por sabão
Dei nelore em zebu
Uma rã dei num cururu
Troquei quadra por quadrão

Troquei burro pela besta
Um balaio dei numa cesta
Troquei quinta pela sexta-feira
Dei batizado em pagão
Troquei amor por paixão
Troquei cama pela cova
Dei dez velhas numa nova
Troquei quadra por quadrão

Troquei boteco em butique
Dei Berlim por Munique
Desmaio troquei por chilique
Troquei praga em maldição
Delfim eu dei na inflação
Troquei piau em crumatá
Francesa por alemã
Troquei quadra por quadrão

Troquei cachaça por mé
Dei Garrincha em Pelé
Troquei Tomás por Tomé
Troquei o sim pelo não
Dei Cosme por Damião
Dei o Xá por Khomeini
O capeta por Mussolini
Troquei quadra por quadrão.

O vale não troquei por nada
Mas dei numa terra sonhada
Meu coração prá uma fada
E em troca tive a lição
Ela me disse: preste atenção
Nosso amor e Itaobim
Só troque pelo céu mesmo assim
Cantando Quadra e Quadrão

Autor: Jansen Chaves