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terça-feira, 14 de outubro de 2014

10 anos do dia em que eu saí de casa

Hoje, exatamente hoje se completa dez longos anos do dia em que deixei minha casa e minha cidade em busca de novos horizontes na vida. Aquele fatídico, mas esperado dia mudou minha vida repentinamente e me trouxe responsabilidades que até então nunca tive, levando-me abruptamente da adolescência para a vida adulta em um dia.
Foi um dia de indecisão, pois me via prestes a me formar no ensino médio na minha cidade, mas sem muita perspectiva sobre o que fazer na vida. Meu tio Rogério que também saiu de Araçuaí para estudar vivia me dizendo para sair da cidade, era hora de crescer ou pelo menos buscar o crescimento e, para isto, era imprescindível que eu saísse da "barra da sai de minha" mãe e encarasse o mundo sozinho.
Esta decisão foi sendo adiada, o primeiro pedido foi logo ao terminar o ensino fundamental, mas não me considerei preparado o suficiente para fazer o ensino médio fora. Ainda era muito imaturo, julguei ser melhor continuar em casa, crescer e estreitar melhor meu relacionamento com minha família e a cidade antes da decisão de ir embora.
O tempo passou e, mesmo estudando numa escola com qualidade inferior, resolvi que ia melhorar meu rendimento e talvez me aventurasse num sonho de fazer um curso superior que, até então, era visto como um sonho impossível pra mim. O desafio era acumular o maior conhecimento possível no ensino médio e continuar aproveitando minha casa, família e viver meus últimos passos como cidadão araçuaiense antes de partir para o improvável. A semente estava plantada.
Ao final do ensino médio, vem a noticia que minha tia Lindaura que morava em Betim estava disposta a me acolher em sua casa para que eu terminasse o ensino médio por lá e pudesse estar mais próximo de alunos que tinham o mesmo pensamento que o meu e assim poder de fato medir meu nível de ensino. As portas se abriam, mas a incerteza e a aquela vontade de fazer as últimas despedidas pela cidade adiaram um pouco a minha ida.
Passaram-se mais dias e aos poucos sentia que a cidade podia estar ficando pequena para o que eu esperava fazer. A vida era boa, sem muito dinheiro, mas com muitos amigos e na fase que estava o dinheiro não importava muito, pois as diversões de cidade pequena eram feitas na escola, rua, rios, etc. Entretanto, aos poucos via que a maioridade ia chegando e não avistava meu futuro na cidade. O convite para mudança começara a ecoar na minha cabeça.
Comecei a comentar com meus colegas, com minha mãe e, aos poucos, ia me preparando para o que estaria por vir. Havia saído da minha cidade apenas duas vezes. Quando criança passava férias do meio do ano na casa de minha tia em Capelinha e na adolescência fui para a formatura do meu tio em Viçosa. Meu conhecimento era praticamente nulo fora da minha cidade, nem as cidades vizinhas eu conhecera até então. Estava muito cru, mas era preciso arriscar.
Consegui uma passagem para Belo Horizonte pela prefeitura da minha cidade, o alto custo da passagem de ônibus pela Gontijo estava eliminado. Liguei para minha tia, conversamos, ela me explicou como ia ser minha morada na casa dela até que eu terminar o ensino médio e depois tentar a vida pela capital. Conversei com minha mãe, ela concordou, não havia muito que fazer. Era hora de apressar as despedidas.
Era então num dia como esse, aproximadamente no mesmo horário que, há dez anos, toda minha trajetória começara a ser decidida. Bolsas arrumadas, não havia muitos bens para levar, mas havia muita esperança. Horas antes de embarcar não encontrava minha passagem, a responsabilidade ainda não havia chegado. Arrumamos um jeito, conversamos com a responsável pelas viagens que confirmou meu nome na lista. Apesar da minha imaturidade, fui salvo. Dias depois descobri a passagem no fundo de um de muitos dos meus bolsos...
Aguardava a hora da partida, havia um momento de hesitação e angustia, pois partiria rumo ao desconhecido. Despedi de minha mãe e de minha irmã que foram comigo até os últimos passos e entrei no ônibus. Não tinha volta...
Não tirava a cabeça da janela, queria ficar olhando tudo aquilo ali que fora toda a minha vida. Conversava pela janela com minha mãe e minha irmã até o motorista dá a partida. Não queria ficar pensando demais no que estava a me esperar para não ficar mais aflito do que estava. O motorista liga o ônibus, foi dada a partida. Olhei pela janela e dei tchau para minha mãe e irmã que começara a chorar, tive que parar de olhar para não fraquejar... O ônibus foi contornando a cidade rumo à rodovia, a cidade ia ficando para trás. Alcançado a rodovia, o último olhar para a cidade que sempre vivi. Era meu adeus como morador, o destino me aguardava.

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