Olá! Seja bem-vindo. Hoje é
.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Último Parto

Minha mãe trouxe de Araçuaí, 
no boi da canoa, 
uma linda criança. 
Descera nas águas claras 
daquele rio, 
onde o sol lumiava 
as mãos e os remos dos canoeiros. 
A água azul 
tingia a pureza do meu pai 
e nós, no lajedo, doidos para vê-la, 
cada um primeiro que o outro. 
Eu vi primeiro, gritávamos. 
E a tarde mostrou seu nome, 
nome de vida, nome de santa: 
Maria Efigênia. 
Depois, Fija, Efi e tia Fija. 
Ficou menina caçula sorrindo branco 
a luz clara dos seus olhos verdes. 
E será sempre caçula 
bebendo água na concha da mão 
e brincando de guisado no fundo do quintal. 
Será sempre Fija, 
“sempre-viva”, 
sempre o sempre 
neste eterno em que a vida promete, 
um dia, as asas da sombra. 
Será,talvez, a última 
a contar a nascente da mina dágua 
na beira do barranco. 
Será a última (quem sabe) 
a contar o sabor de um colo. 
Será minha mãe, 
me ensinando como a outra mãe, 
ensinando pra seu outro filho, 
o labutar da vida. 
Será mesmo a mama 
dos manos unidos 
naquele cordão enterrado, 
cortado a tesoura, 
a única sem parto de vovó Isaura 
porque a última. 
Será quando o tempo nos trouxer 
“saudades”

Autor: José Machado de Mattos

Nenhum comentário: